O GRANDE DEBATE
Extirpar índios de seu meio e degradar o ambiente não são coisas que peguem lá muito bem. Ainda mais em uma época que o ser humano passou (?) a repensar sua relação com o ambiente que o cerca. Nesse bojo, os custos sociais e ambientais galgam importância ante os custos econômicos, outrora soberanos. É o efeito da “sustentabilidade” reordenando os fluxos de caixa.
O argumento motor da construção de Belo Monte passa pela superação dos limites estruturais de nosso país. O que começou como uma obstinação dos militares por promover a plena industrialização do Brasil, se transformou em uma necessidade vital para nosso futuro econômico. Obviamente que a questão política exerce um sobrepeso em ambos momentos. Tanto que será um grande bônus eleitoral se o atual governo edificar com êxito a usina.
Embora o saldo político já esteja apurado e a questão ambiental nítida, resta aos brasileiros decidir sobre o custo social do empreendimento. Desencurvar rios e engaiolar índios em nome do desenvolvimento soa primitivo ante os avanços de nossa civilização. A remoção das populações ribeirinhas e “aculturadas” traz um impacto vigoroso sobre as cidades. Favelização, violência e deserança cultural são só os grandes grupos dos problemas da remoção.
Então, que desenvolvimento é esse? Amartya Sen, em linha mais ortodoxa com nosso Celso Furtado, prega que desenvolvimento não se mede simplesmente por números estanques ao final de um ciclo produtivo. O desenvolvimento em sua plenitude trata de liberdade, trata de acesso. O indivíduo consegue exercer sua capacidade material, cultural, social, política e espiritual em uma sociedade realmente desenvolvida. Nessa linha, a construção de Belo Monte estaria contribuindo não para o acesso, mas para a degradação de parte do patrimônio humano brasileiro.
No entanto, o projeto é muito grandioso para se encerrar em um único posicionamento. Os argumentos contra a usina são fortes e prolíferos. Na internet e na mídia são raras as posições publicamente a favor. Talvez as grandes perguntas sejas, no fundo, qual o preço do desenvolvimento que queremos, e se Belo Monte e todo seu gigantismo vai de fato contribuir para tal. O que você acha?